“Don’t Look Down”. Desta forma foi intitulado o documentário realizado pela Channel 4, de Londres, sobre as aventuranças do jovem inglês James Kingston pelo topo de prédios e guindastes a mais de 100m de altura.
Para nós, da área do Parkour, a prática de subir em lugares altos para explorar ou mesmo testar nossos limites não é algo novo. Mas depois da viralização de alguns vídeos do já citado James Kingston e do ucraniano conhecido como “Mustang Wanted”, uma febre se espalhou, motivando mais e mais pessoas a realizarem coisas similares e publicarem suas fotos na web.
Muito legal, muito bonito, muito radical. Mas, até que ponto isso é saudável? Até que ponto isso não pode incentivar mais e mais pessoas a se arriscarem, talvez sem a técnica e confiança necessária para executar os movimentos? Dê uma olhada nos seguintes vídeos para entender melhor do que estamos falando:
Acredito que o maior perigo não está nas pessoas que já estão lá. Sem dúvida alguma os meninos dos vídeos tem plena confiança do que estão fazendo e não se arriscariam a toa. E realmente, não me preocupa que as pessoas que saibam o que estão fazendo o façam. Mas é interessante refletir que a moda do MMA deixou algumas pessoas lesionadas, a onda do Parkour também deixou muita gente de molho e qualquer outro trend/moda/tendência terá seus malefícios. Por isso o perigo está nas centenas de pessoas que assistirão aos vídeos e irão querer fazer coisas similares, sem ter o preparo necessário. Um erro no topo de um prédio não é uma lesão, é a morte.
Se você se pendura em uma barra com 2m de altura, porque não faz isso a 100m de altura? Pelo simples fato de a sua vida não estar em jogo, lá em cima. A 2m do chão, quando as suas mãos suarem você desce e se pendura novamente, quando você cansar, solte e descanse. Mas e lá em cima? Lá em cima é diferente. Lá em cima, além da técnica e condicionamento físico, precisa-se também de muita frieza para se controlar e manter-se calmo. E não, não é qualquer um que consegue manter as emoções sob controle com a vida em risco.
Meu maior medo como praticante e professor de Parkour é a influência que esses vídeos terão sobre os praticantes (e não praticantes) sedentos por adrenalina. Lembrem-se sempre, o parkour não é um esporte radical. O parkour visa sua autonomia e total controle em qualquer situação, e não doses de adrenalina a cada salto ou escalada. Se arriscar desta forma sem ter plena certeza do que irá acontecer não é coragem, é burrice. Dezesseis pessoas já morreram nestas ‘brincadeiras’, uma porque pegou em um fio decapado, outra porque não se equilibrou direito, outra porque bateu um vento inesperado, e assim por diante.
Como já ouvi o Robison Portioli, do Vida Nômade, dizer: “Arriscado? Não, risco se tem quando existe a possibilidade de dar certo”
Alguns praticantes de Parkour Brasil a fora tem se aventurado desta forma. As chamadas “Missões”, popularizadas na Inglaterra e, quase que secretamente, espalhadas pelo mundo do Parkour não são novidades para nós. Inclusive em Curitiba, nossa equipe (com, no mínimo, 6 anos de treino) já se aventurou em algumas escaladas por aí.
De qualquer forma, espero muito que a ‘moda’ não pegue. E caso você queira fazer algo do tipo, não faça pelas visualizações, pelos likes no facebook e comentários para o seu ego. Faça pelo momento, por um motivo maior que te levou até lá em cima. Lembre-se que sua vida é o mais importante, além do fato de que você pode ser a inspiração de outros que não tenham o mesmo preparo que você, então cuidado com o que você faz ou prega.
Bom, tirem suas próprias conclusões! Sugiro que assistam o documentário com fones de ouvido e tela cheia. Desafio a todos a manterem as mãos secas.