DESMISTIFICANDO OS RISCOS NA PRÁTICA DO PARKOUR

Desde que comecei a praticar, mas principalmente quando me tornei profissional do Parkour, convivo com o pensamento comum de que trata-se de uma atividade com muitos riscos. É normal (e acho que não só no Brasil), quando falamos de Parkour, as pessoas dizerem que não é para elas, pois acham difícil e por terem muito medo de se machucar.

Além disso, sempre foi comum responder perguntas quase afirmativas do tipo:  “Você já se quebrou muito?”. E o pior é a cara de surpresa quando, pacientemente, respondo que na verdade é raro você se machucar no Parkour.

Entendo muito este pensamento da maioria das pessoas, principalmente quando penso nos comerciais, filmes e vídeos que mais chamam atenção para o Parkour por aí. Caras saltando de alturas incríveis, pulando prédios e se expondo a riscos gigantescos. Mas aqui tentamos frequentemente desmistificar o que realmente é Parkour. Afinal, quando vemos uma ginasta nas Olimpíadas virando um mortal em cima de uma trave de equilíbrio, não pensamos nela como uma pessoa maluca e inconsequente se expondo a riscos, mas sim em alguém que desenvolveu tanto uma habilidade, que consegue fazer algo quase impossível aos nossos olhos, de forma muito precisa e controlada.

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Baseado nisso, minha maior preocupação sempre foi com meus alunos. Acredito que o ideal do Parkour é desenvolver um corpo forte e habilidoso, mas de forma útil e saudável. É claro que falaria isso por ser professor de Parkour, mas falo também pois é o que vejo diariamente na prática: Parkour, quando aprendido de forma correta, parece ser muito menos arriscado do que a maioria das atividades esportivas mais comuns.

Porém, apesar de acreditar nisso, decidimos desde dezembro de 2014 incluir nos relatórios de aulas da Ponto B, um campo exclusivo para relatarmos lesões e acidentes que ocorrem com nossos alunos. Isso nos dá parâmetros para analisar e avaliar quais são as situações, materiais, quantidade de alunos por turma, etc. nos quais os alunos estão mais suscetíveis a se machucarem.

Para complementar, dias antes de escrever este post, recebi um e-mail de um colega da Tracer Parkour (academia em São Paulo), que relatava como a academia Parkour Visions (EUA) estava lidando e registrando essa problemática. Como é muito difícil comparar com outras modalidades de forma justa, pois cada pesquisador ou modalidade utiliza um mecanismo de registro (como definir o que é ou não lesão, etc.), a ideia deles é criar um padrão para que todas as escolas/academias de Parkour usem um mesmo mecanismo de controle e registro desses casos. Acredito que seja um projeto ainda em desenvolvimento, o qual me interessa bastante. Baseado nisso, aproveitei o modelo deles para trazer para vocês alguns dados sobre nossas aulas.

COMO AVALIAR OS RISCOS NO PARKOUR

Para avaliar os incidentes, precisava de alguma ferramenta. Primeiro, me baseei no modelo da Parkour Visions para classificar os casos ocorridos neste período, adaptando para um formato mais adequado com nossa realidade. Dividiremos aqui em 5 classes de lesões:

Classe 1 – Recuperação rápida: Acontecimentos que não necessitaram de visita ao médico, nos quais o problema foi resolvido na hora e o aluno continuou fazendo a aula, mesmo que de forma adaptada . Exemplos: calos, arranhões, hipoglicemia, dores de cabeça, mal-estar, dor muscular, contusões leves, entorses leves, etc.

Classe 2 – Repouso e rápido retorno: Incidentes não graves, que impediram o aluno de continuar fazendo aquela aula, mas o mesmo retornou na próxima aula sem prejuízos e sem ter necessitado de atendimento médico. Exemplos: Entorses, contusões, etc.

Classe 03 – Atendimento médico: Incidentes que o aluno parou de fazer a aula e precisou de uma ou mais visitas ao médico. Porém, dentro de uma semana estava liberado para frequentar as aulas normalmente. Exemplos: contusões na cabeça, entorses seguidos de inchaço, etc.

Classe 04 – Recuperação de médio a longo prazo: Incidentes que precisaram de acompanhamento médico, tratamento, cirurgia ou repouso por mais de um mês. Exemplos: fraturas, deslocamento articular, tendinites graves, inflamações graves, etc.

Classe 05 – Incapacitante: Incidentes que colocaram a vida em risco, necessitando atendimento médico imediato. Exemplo: parada respiratória, ataque cardíaco, fraturas graves, etc.

Para analisar estes dados, consideramos o número de incidentes correlacionando-o com o número de exposições. Entendemos por exposição, cada aluno frequentando uma aula. Por exemplo, se numa turma A houveram 13 alunos, e na turma B em seguida, 15 alunos, neste período, foram 28 exposições.

INCIDENTES NAS AULAS DE PARKOUR EM 2015

Os dados abaixo relatam casos registrados em nossos relatórios desde o dia 05/01/2015 até o dia 07/04/2015, quando comecei a escrever este post. Aqui estão relatados todos os casos, desde aulas em grupo até aulas particulares (personal).

Durante este período, foram 200 aulas de Parkour, resultando em 1081 exposições e 72 incidentes (65 de Classe 1; 4 de Classe 2; 2 de Classe 3 e 1 de Classe 4).

Dados de Lesões no Parkour

Isso gera uma taxa de lesões de 66,6 casos para cada 1000 exposições. Sendo que destes, 60,1 casos para cada 1000 exposições foram de Classe 1, incidentes leves onde os alunos continuaram fazendo a mesma aula. Destes incidentes relatados, apenas 2,77 dos casos para cada 1000 exposições, precisaram ir ao médico e ficaram pelo menos 1 semana afastados do Parkour. Baseado nos dados que temos até agora, a chance de você se machucar e não aparecer na próxima aula de Parkour é de cerca de 0,2% por exposição.

Para não alongar muito, deixo esses dados para que reflitamos. O Parkour não pretende expor ninguém a riscos, pretende, diferente de outras práticas, ensinar o aluno a lidar com os riscos de forma controlada e consciente, minimizando muito as chances de sofrer qualquer acidente. Acontece? É claro, e é por isso que estamos preparados com convênios que atendem rapidamente no caso de uma necessidade. Mas pode ter certeza que seguindo as orientações dos professores e respeitando a experiência deles, é muito provável que as dores que você vai sentir serão apenas as musculares pós-treinos!

Agora que desmistificamos, agende sua aula experimental e venha viver experiências incríveis conosco, sem medo.