Baseado em algumas conversas com o Lucas e estudos a respeito do desenvolvimento motor resolvi escrever um pouco sobre um assunto que influencia (e muito) nossos treinos de Parkour, as capacidades e habilidades físicas e motoras.
O Parkour exige muito do nosso corpo, sendo assim, requer algumas qualidades como velocidade, potência muscular, força, coordenação, resistência e flexibilidade. O desenvolvimento dessas capacidades pode oferecer sustentação para o aprendizado e o aprimoramento das técnicas que treinamos com freqüência.
Legal né? É, mas ainda temos outra habilidade a ser desenvolvida, talvez a que é menos falada e a que a meu ver é a mais importante, o tempo de reação (velocidade motora de reação). A velocidade de reação é nada mais que a capacidade de responder a um estímulo em curto espaço de tempo. Ou seja, você está em uma run, de repente aparece um obstáculo, você analisa a situação, e faz um movimento. Para entender melhor, o tempo de reação é o tempo que levamos nessa análise da situação e resposta. Abaixo, segue um vídeo em primeira pessoa do Traceur R.U, onde são mostradas longos percursos diferenciados:
Tá, e daí? E daí que melhorar o tempo de reação pode trazer muita evolução para nós como tracers. Como assim? A idéia é, ao invés de você repetir, repetir e repetir uma técnica/movimento, você tentar trabalhar situações de decisão. Você pode trabalhar as mesmas técnicas, mas de uma forma que haja necessidade de escolha, decisão, analise e resposta. Isso é tempo de reação. Digamos que a repetição é o estímulo + resposta, enquanto o tempo de reação trata-se de um estimulo + análise + reposta. Ao invés de repetir e repetir, devemos treinar as mais variadas situações possíveis, a fim de ter (como diz o Lucas) uma ‘biblioteca de movimentos’, onde em uma situação de necessidade, seu cérebro consiga dar uma resposta rápida e eficaz.
Na teoria é fácil, mas e na prática?
Uma dica para começar (que até eu vou seguir) são esses famosos percursos que fazemos em locais desconhecidos ou sem movimentos pré-definidos. Traçar um caminho novo, diferente, mudar de direção de repente, são detalhes que irão treinar nosso cérebro para que esteja sempre pronto para as mais diversas situações.
No título falei sobre repetições. Não que eu ache algo ruim, muito pelo contrário, acredito que a repetição é a melhor forma de aperfeiçoar uma técnica, mas a meu ver, essa automatização torna-se inútil quando o ambiente não estiver nos mesmos padrões treinados nas repetições.
Minha idéia é que não adianta ter uma grande variedade de movimentos bem desenvolvidos e só conseguir aplicá-los na sua forma ideal, no momento ideal e com a velocidade ideal. Acredito que devemos aplicar as técnicas que aprendemos nas mais variadas situações e dessa forma desenvolver o máximo possível nossa velocidade de resposta para quando realmente precisarmos.
O ideal seria tratar a repetição como uma base de treinamento. Apenas para aperfeiçoar movimentos, melhorar os gestos. Acredito que nossa evolução no Parkour se dará quando soubermos “improvisar”, ou melhor, reagir rapidamente e não apenas repetir um movimento isolado até a perfeição. Abaixo segue um vídeo do nosso amigo João Soter em um treino de repetição:
É um assunto meio ‘cru’ que ainda estou buscando muito na literatura para entender melhor. Pretendo analisar os possíveis benefícios em treinos com esse foco e elaborar formas de treinar essa velocidade de reação voltada ao Parkour.
Talvez muitos de vocês já treinem dessa forma, mesmo sem ter muitos conhecimentos na área. Espero ter me expressado bem, peço que comentem sobre como tem sido seus treinos. Todos nós temos uma teoria, mostre a sua, quem sabe podemos nos ajudar… Grande abraço e bons treinos.
Cassio Jr.
Lembra do que te falei aquele dia sobre “acordar” o corpo? Percursos te deixam ligado demais, isso sem entrar em outras coisas como confiança e controle na movimentação. Concordo plenamente com essa idéia.
E sempre aprendendo mais com vocês, vou tentar aplicar isso nos meus treinos. Uma coisa que sempre penso em treinar e acabo sempre deixando de lado é treinar o lado oposto do que estamos acostumados, tipo, perna impulsão, lado do rolamento, o braço que rouba no planche, etc.
ok, fugi do assunto ja, hahaha
mas queria comentar
ótimo ver como o trabalho de vocês esta evoluindo e se tornando cada vez melhor
Abrç, Lucas
olá Cássio,
gostaria de fazer alguns apontamentos (construtivos é claro) no seu racíocinio:
Você cita diversas CAPACIDADES mas em seguida troca pela HABILIDADE
lembrando que “capacidade” indica uma medida de potencial, podemos
dizer que o homem é capaz de saltar, correr, lançar, etc… entretanto
quando citamos tempo de reação e o colocamos como “habilidade” temos
que relembrar também que a mesma é uma ação complexa e intencional
envolvendo toda uma cadeia de mecanismos sensório, central e motor e
quando relacionada com a motricidade humana, pode-se também definir
habilidade “como aqueles atos/tarefas motoras que requerem movimento
e devem ser aprendidas a fim de serem executadas corretamente”
seguindo esse raciocínio seria bem mais esclarecedor vc citar somente
habilidades em seu texto.
Com relação ao Tempo de Reação, devemos lembra de um fator importante:
os indivíduos podem ter reações rápidas e serem relativamente lentos
nos movimentos e vice versa (lembrando que o tempo de reação NÃO tem
correlação com a velocidade dos movimentos!).
Com relação à repetição, creio eu que, no parkour ela torna-se válida
no ponto que me você apefeiçoa o movimento a tal ponto, quando pode-se
utlizar uma técnica/movimento de forma autmática e ao mesmo tempo você
consegue executá-la fora do ambiente considerado “fechado”. à medida em
que conseguimos lidar com tal fator nossa habilidade torn-se “aberta”
(ou seja, toda aquela habilidade realizada em um ambiente imprevisível
em que há mudanças continuas, o parkour é um ótimo exemplo disso).
No final de seu texto, você troca tempo de reação por velocidade de reação
(o que pode causar alguma confusão entre os leigos no assunto). Sei que
parece ser mesmsa coisa, mas não é! Geralmente a “velocidade de reação”
é expressa através do tempo necessário para a reação motora (geralmente sendo
expressa em segundos – ou décimos de segundos).
Em se tratando de parkour, creio eu que, devemos assimilar o movimento de tal maneira que torne-se inconsciente a forma como devemos aplicá-lo/realizá-lo. Sabemos realizar um “speed” com perfeição, pois treinamos repetidas vezes em um ambiente fechado, mas ele torna-se funcional apenas quando puder ser realizado com total confiança fora deste ambiente, numa situação adversa, fora dos padrões normais aos quais estamos acostumados e seja realizado de forma limpa, adaptando-se ao ambiente novo.
Sempre que vou treinar, gosto de utilizar o mesmo movimento em diversas situaçõe se em divesos locais/ambientes, justamente para assimilar o fator imprevisibilidade ao movimento. Bom, esta é uma opinião pessoal.
Creio que você tocou em um ponto de extenso debate, no que puder colaborar, pode contar comigo.
GRANDE ABRAÇO!
Olá prof. Luiz, gostaria primeiramente de agradecer suas dicas. Na verdade o texto não foi voltado ao público formado, como você, mas sim leigos. Poderia ter citado o TR como TEMPO DE RESPOSTA, proposto por Schimidt por exemplo, mas a intenção foi passar uma ideia ampla e para leigos. Com relação ao parkour tratar-se de habilidade fechada ou aberta, é muito relativo. Você mesmo deve saber como ha contradições bibliográficas neste assunto. Muita gente sem conhecimentos teoricos que leram o texto vieram conversar comigo, e poucos apresentaram duvidas, o que me deixa mais aliviado. Porém, obrigado pelas suas observações… Não usei os termos na forma acadêmica, até por nao ser um artigo acadêmico! Meu objetivo foi o entendimento da ideia de forma ampla mesmo, afinal, nem todos são profissionais de Ed. Física e nao teriam conhecimento suficiente de desenvolvimento e aprendizagem motora para interpretar dados mais complexos e aprofundados. Grande Abraço!