O que me motivou a escrever sobre esse assunto, não foi o primeiro, e acredito que não será o último caso onde chega a mim a notícia que o Parkour foi “proibido” em algum lugar. O que soa para a maioria das pessoas que realmente conhecem o Parkour como algo absurdo. Mais absurdo ainda quando essa atitude surge dentro de instituições de ensino, como escolas.

Nos últimos sete anos acompanhei um pouco do crescimento do Parkour no Brasil. Lembro que em 2007, quando comecei, poucos conheciam. Na verdade, acredito que foi o momento em que começou a popularizar mais a prática. Hoje a maioria das pessoas conhecem, talvez pelo nome, ou pela característica de “sair pulando por aí”.

O problema, na verdade, é que o Parkour não tem nada de “sair pulando por aí”. Com certeza a primeira impressão que fica é essa. Principalmente quando vemos um vídeo ou comercial Se pararmos para pensar, ao nos basearmos nisso, ocorre um erro de informação muito grande. Parkour não é sair pulando por aí, assim como também não é “esporte de louco”.

É notável que o Parkour atrai muitas pessoas, principalmente crianças e adolescentes. A forma diferente de se movimentar usando apenas o corpo, romper barreiras e criar possibilidades no ambiente, talvez seja o que mais chame a atenção da garotada. Porém, nem todos têm as informações necessárias para entender que aquele vídeo, com diversos movimentos, foi gravado uma vez só, mas o praticante realizou estes mesmos movimentos por diversas vezes. Além disso, para cada movimento bem sucedido, foram várias horas de treinamento físico, de progressões técnicas iniciando muitas vezes com movimentos bem mais simples.

Um exemplo fácil para entender esse raciocínio, é pensar na Ginástica Artística, popularmente conhecida como Ginástica Olímpica. Quando vemos uma ginasta executando um mortal duplo com pirueta, sabemos o risco que aquilo tem, mas não chamamos ela de louca. A imagem que temos é de uma pessoa que treinou e dedicou parte do seu tempo e da sua vida para aprender aquela técnica. Ela nos assusta com sua extrema habilidade, não com sua loucura.

O Parkour deveria ser igual. Os praticantes sérios e responsáveis, passam exatamente pelo mesmo processo. Processo, aquilo que precede um resultado. Não podemos olhar um produto final (por exemplo, vídeos) e julgar ele por si só. Quando olharmos um praticante de Parkour executando um movimento de risco, devemos entender que antes daquilo, teve todo um processo que o fez adquirir aquela habilidade.

Mas como mudar essa visão em crianças e adolescentes? Para que eles entendam isso, é necessário partir de nós, professores, educadores, diretores e pais. Muitos colégios, quando percebem que os alunos começam a tentar “fazer Parkour”, ao invés de administrar aquilo e mostrar que é necessário um treinamento, simplesmente proíbem. Ao invés de ensinar como administrar o risco, surge a proibição.

Estudos mostram que as crianças, cada vez mais, não gostam de estudar. Gostam de ir para a escola, mas não gostam de estudar. Talvez isso aconteça pela falta de sentido e interesse nos conteúdos apresentados. Por que não, apresentar um conhecimento que eles demonstram interesse? Por que não ensinar geografia, por exemplo, relacionando com um jogo de vídeo game? Por que não incluir o Parkour nas aulas de Educação Física e mostrar que eles não devem sair por aí pulando, mas podem sim ter acesso a uma disciplina corporal do movimento que pode trazer diversos benefícios, se praticada de forma adequada?

Precisamos mudar nossas atitudes. Principalmente nós, educadores, precisamos aprender a educar. E só aprenderemos a educar, quando aprendermos a nos educar. Precisamos conhecer o que nossos alunos conhecem. A escola será um lugar prazeroso, quando tornarmos nossos ‘conteúdos’ mais interessantes do que o vídeo game, do que o computador, do que o smartphone, e tantos outros concorrentes da educação. Perdemos as oportunidades de usar aquilo que traz interesse para os alunos como meio de formação. Precisamos entender novos fenômenos, novas atividades, novas tecnologias. Precisamos formar nossas crianças, ao invés de optar pelo caminho mais fácil, o de dizer NÃO.

Cassio Jr. (Professor de Educação Física)

 

Em primeiro lugar, é importante saber que Parkour não é simplesmente pular, ou menos ainda transgressão. Essa má interpretação é um dos maiores riscos da auto aprendizagem, da cópia de vídeos do Youtube, do treino baseado no espetáculo. O aprendizado sem os valores que cercam a prática, sem a referência de um “mestre” para se basear na conduta e no dia a dia, no treino, na progressão, ou seja, em tudo o que “o espetáculo” não mostra. Essa é a grande importância de um acompanhamento responsável, profissional, do aspirante a praticante de Parkour. Sempre que damos aulas as crianças, deixamos claro que Parkour não é proibido e elas sempre poderão fazê-lo – mas que é importante o acompanhamento de um adulto, seja pai, professor ou outro responsável.Jean Wainer (Diretor da Academia Tracer – São Paulo)

 Hoje, existem muitos grupos de praticantes que trabalham para mostrar que a prática não se trata de uma simples brincadeira de pular, e sim de uma disciplina que exige comprometimento e responsabilidade por parte do praticante. Acredito que é necessário um diálogo maior entre nós professores e profissionais da prática e as autoridades responsáveis por instituições voltadas para educação e a cidadania. É preciso enxergar que o Parkour é uma prática extremamente benéfica a qualquer jovem que venha a praticá-la, desde que feita de uma forma responsável. Através desse diálogo acredito que é possível encontrar formas de não só evitar a proibição do Parkour como também de promover a educação e o bem estar através da boa divulgação da prática. Pedro Santiago (Coordenador da Parkour Generations Brasil – Brasília)

Em pratos limpos, o que acontece é o medo de abraçar o desconhecido. Ao invés de procurar andar de mãos dadas com uma nova ferramenta de ensino, algumas entidades preferem ignorar o histórico e os benefícios da prática e instaurar uma absurda proibição. Absurda porque o coração do Parkour é a comunicação do praticante com o meio em que se encontra. Coibir a prática é reprimir a noção de consciência espacial e reprimir o desenvolvimento motor do ser humano. Enxergo nisso uma medida totalmente arbitrária. A medida positivista que é esperada de uma instituição que promove o ensino e o lazer deveria ser a busca de pessoas qualificadas e preparadas para retransmitir esse conhecimento sem causar danos: nem aos pretensos iniciantes nem ao patrimônio. O Parkour tem muito a oferecer. É uma ferramenta educacional ainda muito pouco explorada. Mas se não abrirmos o espaço para que ela seja desenvolvida, estaremos marginalizando uma atividade que nasceu para revolucionar o modo como o ser humano encara o meio em que vive, e por tabela, os futuros praticantes e cidadãos. Eduardo Rocha (Presidente da Associação Sergipana de Parkour – Aracajú)

 Me é curioso que o Parkour seja proibido em escolas. No entanto, não me surpreende. Acredito que a supervisão desses espaços de educação formal sintam-se muito inseguros diante de uma movimentação inesperada de seus alunos. Me interesso bastante pelo assunto: instituições de ensino tradicionais x instituições de ensino informais. Tenho amigos professores de ensino médio da rede pública e são recorrentes os comentários entre eles sobre o desinteresse dos alunos em participar das aulas. Isso ocorre não exclusivamente pelo conteúdo dado dentro de sala de aula, mas principalmente por uma resistência desses jovens adultos e adolescentes em relação “a” instituição. Ao invés de coibir a atividade, as escolas deviam enxergar a oportunidade no interesse desses jovens e convidá-los à prática. Uma boa maneira de fazê-lo é trazendo profissionais de Parkour para ministrar oficinas nas escolas e mediações. Um bom instrutor de Parkour conseguirá transmitir para a turma os benefícios, desafios e bom senso da prática, que poderá ser aplicado em outros campos da formação desses alunos. Não somente no desenvolvimento físico da turma, mas também na formação do caráter desses futuros cidadãos. Inclusive, na utilização do espaço dentro da escola, respeitando os colegas e funcionários através de um entendimento de seus próprios limites, deveres e direitos. Bruno Peixoto (Diretor da Parkour Generations Brasil – São Paulo)

 Todo tipo de proibição arbitrária nunca é a solução definitiva para um “problema”. Ao meu ver, a atividade “Parkour” ainda sofre de um preconceito estabelecido pela sociedade, pois ainda não se conhece por completo sua definição, valores, filosofia e o real objetivo da prática. As crianças e adolescente só tem a ganhar conhecendo, praticando e se exercitando com o Parkour. Um bom exemplo para este argumento é que na Europa existem turmas de iniciação para crianças/adolescente em ambiente indoor e é um completo sucesso. No Brasil está iniciativa já começa a ganhar um cenário amplificado (SP, DF, PR e RJ) contam com academias e espaços próprios para o ensino e a correta instrução do Parkour. Cabe as escolas/colégios pesquisar um pouco mais e ao invés de colocar uma placa: “Proibido Parkour”, incentivar através de praticantes experientes, apresentar através de Workshops/oficinas um novo conceito em movimentação, a instauração de uma atividade que está a mais de 10 anos se solidificando em nosso país. JJ. (Omnis Pro Parkour – Rio de Janeiro)