“E se chover?”, essa é a pergunta que todo aluno ou pai que aluno faz ao efetuar uma matricula para uma aula outdoor de Parkour. Eles questionam se não é muito arriscado praticar Parkour na chuva, se não há maiores chances de se machucar. A resposta é Sim, realmente é mais perigoso, os cuidados que o praticante deve ter precisam ser dobrados. Mas, então, por que treinamos na chuva?
Para entender isso, primeiro temos que lembrar um pouco do que é Parkour. Parkour é uma prática que tem por objetivo desenvolver potencialidades que possibilitem melhor movimentação. A ideia é que nenhum obstáculo (molhado, sujo, torto ou seco) impossibilite o praticante de seguir à diante em seu percurso. Portanto, o praticante terá que adaptar-se ao obstáculo que encontrar, seja em um dia ensolarado ou chuvoso.
Treinos em dias chuvosos podem ser ótimos treinos técnicos. Ao contrário do que muitos pensam, treino na chuva não é sinônimo de treino físico, mas pode ser sim um excelente treino técnico. Em um treino na chuva, com certeza, o praticante terá que adaptar e aprimorar sua técnica em alguma situação, talvez saltar mais para cima para não escorregar, fazer um Cat leap com o corpo mais grupado, garantir maior firmeza nas mãos durante um Vault ou saltar mais para frente e posicionar bem os pés quando for um salto para corrimão, mas alguma coisa será diferente. É está adaptação à chuva que exige do praticante maior domínio da técnica aprimorando pequenos detalhes que em treinos comuns não fazem tanta diferença.
Além de aprimorar a técnica, treinos na chuva são bons desafios mentais. Pois, qualquer simples movimento fica mais complexo, tudo estará molhado, as superfícies ficam mais escorregadias, sua roupa fica mais pesada, você sentirá mais frio e dependendo da situação ficará difícil até para enxergar devido à água caindo sobre os seus olhos. Na chuva, até aquele simples salto de precisão que você faz todo treino dá medo de errar. Com isso, treinos assim tornam-se um exercício de concentração constante que ajuda você lidar melhor com situações de maior risco.
Esses são os principiais motivos pelo qual acreditamos que devemos treinar na chuva. Treinar como um desafio técnico, desafio psicológico e, principalmente, com o objetivo de treinar um parkour mais real nos adaptando à uma situação incomum. Porém, vou um pouco mais além quando se trata de “parkour mais real”. Se entendemos que um dos pontos principais do parkour é adaptação do praticante ao ambiente, por que limpamos os muros para tirar areia e pedras de cima dele? Por que tiramos os galhos ou pedras que estão atrapalhando nossa corrida? Por que limpamos o tênis antes de saltar? Por que nunca corremos na grama ou na areia quando elas estão molhadas? Por que ao invés de fazer todas estas coisas, não tentamos adaptar nossa técnica para conseguir se mover sem que nada nos impeça? Eu não quero limitar a minha técnica somente para a situação “adequada”. Não quero me mover com segurança e confiante do que estou fazendo apenas quando estiver sol, quando não estiver nada molhado, quando o chão não estiver sujo de areia ou quando eu estiver com a roupa adequada. Quero conseguir me mover e chegar ao meu ponto B independente da situação. E você? Quer continuar dizendo que faz aquele “famoso salto de precisão”, mas, na verdade, depende da situação para você conseguir executá-lo? Treinamos para conseguir nos mover e trilhar nosso caminho ou para realizar as mesmas “manobras” em lugares diferentes? Assim, concluo essa breve reflexão com este desafio; experimente mais, explore-se mais, não dependa de outros fatores ou condições para fazer tudo o que você consegue, não mude o lugar de acordo com o que você necessita, mas mude você naquilo que precisa melhorar.
“Mas eu nunca treinei na chuva, como faço?!”
Para quem nunca teve a oportunidade, acredito que a melhor maneira de começar é começando do “zero”. Execute movimentos leves e mais lentos para se sentir a aderência do lugar e entender aquilo que terá que fazer diferente. Com tempo, aconselho ir aumentando gradativamente a distância, a velocidade e a dificuldade dos saltos até estar bem acostumado para conseguir realizar com segurança tudo que consegue fazer em um dia sol também em um dia chuva.