QUAL A RAZÃO DE ALGUNS APRENDEREM TÃO RÁPIDO E OUTROS TEREM TANTA DIFICULDADE?

Vejo muitos praticantes com dificuldade na hora de aprender um movimento. Indignados, desistem e partem para outro ou até largam o Parkour.

Minha ideia é compartilhar com você um pouco sobre como funciona a aprendizagem motora, como aprendemos movimento. Entendendo 3 fases principais, ficará muito mais fácil de você notar tua evolução e saber para onde olhar nos teus treinos.

Antes de tudo, entenda que aprender um movimento é diferente de aprender o nome de uma rua, por exemplo. Ambos são informações que criam sinapses neurais (novas ligações no nosso cérebro), porém, um movimento é um processo mais trabalhoso.

Pense que você terá uma referência visual (vídeo ou um amigo te mostrando o movimento), a comparação dessa informação com tudo o que você já vivenciou e sentiu com relação a movimento (histórico motor), a tentativa de reprodução (possivelmente com erros e falhas no início) e os feedbacks e correções (um amigo ajudando, dando dicas, ou você mesmo se analisando num vídeo).

Geralmente é essa a sequência na prática:

Vejo o movimento -> analiso ele pelo histórico motor -> reproduzo na prática -> tento entender como fiz.

Todo movimento que aprendemos passa por algumas fases. Cada autor descreve de uma maneira diferente, mas a que mais acredito ser prática e fácil de notar no dia-a-dia no parkour são as seguintes:

  • Fase 1: Fase inicial/cognitiva. São as primeiras tentativas. Depende da tua razão/cognição. Você precisa pensar muito naquilo que está fazendo. Na maioria das vezes erra bastante. As vezes acerta mas não percebe muito bem o que aconteceu. Exemplo: quando você está treinando mortal, e não faz ideia do que aconteceu enquanto executava o movimento, sofre uma espécie de “blecaute” e acorda quando toca o chão/colchão/areia/grama.

Sugiro que na fase 1 você foque em duas coisas: repetição e educativos/progressão. Desconstrua movimentos mais complexos, separe eles em partes e treine essas partes isoladamente. Foque em uma coisa por vez, não sobrecarregue sua cabeça com informações. Repita o movimento, deixe seu corpo amadurecer aquilo ao ponto de começar a SENTIR melhor o que está acontecendo. Esse sentir te insere dentro da fase 2.

  • Fase 2: Fase intermediária/associativa. Aqui você começa a entender melhor o movimento. Uma característica clássica é você perceber o que está errando, mas ainda tem dificuldade de corrigir. É quando você faz um movimento, erra e sabe exatamente o que errou. Nesse processo a repetição em situações diferentes, variando o estímulo é extremamente importante. Pois você está sentindo o que está fazendo, logo terá maior capacidade de perceber como aplicar a técnica em diferentes lugares.

Sugiro que, nessa fase, você foque em variar lugares, direções, ângulos, superfícies. Quanto maior a variedade de estímulo, mais você vai acelerar o processo de aprendizagem e domínio do movimento. Lembro de quando aprendi mortal de costas, os primeiros dias treinei olhando para um lado específico do ginásio, e eu sentia dificuldade de fazer quando virava para outro lado. Era uma informação inútil, mas que meu cérebro associou como parte do “ambiente” de execução do movimento.

  • Fase 3: Fase avançada/automatizada/autônomo. Movimento automático, erros grotescos já não acontecem, raramente erra. Quando há atenção, muito raro errar. É quando você já dominou o movimento, teu cérebro dá o comando e o corpo executa. Essa é a fase que queremos que todos os movimentos estejam. É a partir daqui que se torna mais seguro você aumentar distâncias ou fazer em alturas.

Sugiro que quando se perceber nessa fase, torne o movimento mais desafiador, trabalhe outros aspectos como o psicológico.

Importante: Pense que nem todos que fazem movimentos difíceis necessariamente chegaram a fase 3.

Pense em algum praticante que você já conheceu, que faz um movimento hard, mas toda vez parece que vai se matar. Você nota que não tem controle algum naquilo, está sempre muito próximo do limite.

Se você está treinando há um tempo já deve ter se deparado com alguns praticantes assim. O que faltou? Amadurecer o movimento dando atenção as 3 fases.

Quando você entende que existe um processo, e que se ele for respeitado, você poderá chegar num nível de domínio absoluto da técnica, fica muito mais fácil ter paciência para treinar a parte básica.

Vejo no Parkour uma cultura muito forte de execução. Principalmente os iniciantes, muitas vezes se preocupam mais em FAZER do que COMO FAZER.

Não existe uma chave que te coloca em cada fase. É difícil até identificar em que fase você está. São muitas variáveis que podem trazer traços de uma fase anterior quando a circunstância muda (por isso variar as situações).

Minha sugestão é para que nos atentemos mais ao processo. Entender que você querendo ou não ler esse texto, tudo isso está acontecendo com você a cada treino. Compreender melhor como você conquista um movimento, pode te trazer mais segurança e mais resultados nos treinos.

Independente do teu nível, treine de forma inteligente.

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Texto: Cassio Dias de Andrade Junior