Comecei a treinar Parkour em 2007, ainda que existissem algumas orientações do que fazer e não fazer, informações baseadas no empirismo, hoje, após entender melhor alguns princípios do treinamento, vejo como errei na minha “formação” enquanto praticante de Parkour.

O Parkour desenvolveu muito mais cultura do que um método. A ideia de treinar muito, mas muito mesmo, era forte na época, e hoje ainda aparece em diversos praticantes no mundo. O problema é que pouco se sabia sobre como treinar e o pouco que se sabia (e se sabe) muitas vezes não era a melhor forma.

Sem desmerecer toda a base na qual o Parkour foi construído, mas tem muitos pontos nos nossos treinos que podemos melhorar. Na verdade, essa ideia (um pouco talvez herdada das artes marciais) de treinar muito, muito, muito, ao máximo, o quanto puder, por quanto tempo puder, é ótima para desenvolver alguns atributos mentais, ou como preferem os puristas, o “Espírito do Parkour”.

Porém, esses treinamentos exaustivos que te fazem chegar ao limite, nem sempre são positivos para seu desenvolvimento. No treinamento desportivo isso é chamado de “microciclo de choque”. De forma objetiva, a ideia é dar um estímulo forte (volume ou intensidade) em um período de tempo curto (talvez um dia ou uma semana) que proporcione uma adaptação positiva do organismo. Isso ocorre por romper um “platô” de treinamento. Hoje não vou falar de todos os princípios do treinamento, talvez fique para outro post. Quero falar de uma das falhas que observo nos treinos de Parkour, a ausência de frequência.

Você só melhora treinando, praticando. Mas você não melhora durante o treino, você melhora depois. O treinamento é um estímulo negativo para seu corpo, é um estresse que gera catabolismo nos seus sistemas. Seu corpo, inteligente que é, vai buscar formas de compensar esse estresse, esse estímulo, e é essa adaptação ao estímulo que te torna melhor, mais forte, mais rápido, etc.

Para obter essa adaptação, não basta um treino, isso todos sabem. Mas o que muitos as vezes esquecem é da frequência de treinamento. Há um forte hábito no Parkour de treinar de forma aleatória, o que eu não gosto nem de chamar de treino, mas sim de prática. Você encontrar seus amigos e sair por aí livremente, procurando algo para fazer, sem controle nenhum, sem início, meio ou fim, é ótimo, mas não é treino.

Treino precisa de planejamento, precisa de inicio meio e fim, você precisa dar estímulos ao seu corpo que ele se adapte, mas precisa dar estímulos numa frequência, por um período de tempo. Pense que cada movimento aprendido, vai gerar uma transformação gigantesca no teu sistema neuromotor, e bom seria se bastasse apenas algumas repetições para toda essa adaptação. Você precisa repetir, repetir e repetir mais.

Entendam, não estou condenando a prática do Parkour aleatória, eu vivo isso também e sei como é bom, estimulante e divertido. O que defendo aqui é que, aliado a isso, todo praticante de parkour deve buscar uma frequência de treino.

Pense que você vai gerar um estímulo, seu corpo vai começar a se adaptar. Se você parar por uma semana ou mais, ele vai ignorar. Nosso organismo é inteligente e econômico, ele não vai se desgastar preparando-se para algo que não ocorre com frequência. Se em um curto período de tempo você volta a dar o estímulo, ele vai dar importância para isso, vai ver necessidade em se manter preparado para essa exigência, e assim, você irá melhorar.

Arriscaria dizer que pelo menos 3x por semana, com início meio e fim, algo periodizado, ou pelo menos “meio que planejado”. Se você começou a treinar fazendo aulas de Parkour, tem uma vantagem frente aos mais antigos. Se você treina sozinho, cuidado com a frequência, tente programar melhor seus treinos, aqui mesmo temos alguns posts sobre isso.

Se você já foi autodisciplinado suficientemente para iniciar numa prática tão ampla e complexa sozinho, tente usar essa autodisciplina para melhorar o aproveitamento dos seus treinos. Garanto que não irão se arrepender. Você que já treina dessa forma, e tem sugestões, deixe seu comentário contando como organiza seus treinos, talvez possa ajudar aqueles que ainda encontram dificuldade nisso.

Obrigado por acompanharem até o final, espero ter contribuído de alguma forma para vocês. Um abraço, e bons treinos!

Cassio Jr.