Parkour é muito perigoso. Para nós praticantes talvez seja desconfortável essa afirmação. E isso se dá ao fato de que sabemos como ele se manifesta na prática, e quão raros são os casos de acidentes (principalmente graves) envolvendo praticantes.
Nos últimos 10 anos trabalhando com iniciação no Parkour, principalmente com crianças, movi muito esforço para mostrar que o Parkour é seguro, e justamente por ser muito arriscado.
Você também talvez já sentiu isso, porém como fazer as pessoas leigas entenderem? Recentemente li o livro no Nassim Taleb, Antifrágil, e foi até então a melhor forma de entender aquilo que já observamos no Parkour.
A antifragilidade é um conceito criado pelo Taleb, porém evidente (segundo ele) em tudo que existe. A própria natureza é uma prova de antifragilidade. Ele explica isso através de 3 conceitos básicos:
1 – Frágil (-1): é aquilo que se quebra. Numa adversidade ou com mudanças bruscas, sofre prejuízos. Os exemplos vão de uma caneca de vidro que cai no chão e se quebra, até uma pessoa emocionalmente debilitada que passa por uma situação difícil e não resiste a tamanha dor emocional.
2 – Robusto (0): geralmente associamos ao contrário da fragilidade (aquilo que quebra), como aquilo que não quebra. Porém, aquilo que não quebra na adversidade, mas não se beneficia dela, não é considerado o contrário, mas sim o robusto. Uma barra de ferro caindo a 1 metro no chão ou até a tão dita resiliência emocional (capacidade de passar por adversidades e voltar a forma original, sem deformações).
3 – Antifrágil (+1): esse sim é o contrário da fragilidade. Enquanto estruturas frágeis sofrem prejuízos com adversidades, aquilo que é antifrágil se beneficia e se fortalece com mudanças bruscas. Pense no treinamento físico. Um treino nada mais é do que um estresse (adversidade) no corpo, que possibilita uma adaptação. Nosso organismo é uma prova da antifragilidade.
Os astronautas que ficam expostos a baixos níveis de gravidade precisam se exercitar para não perderem a densidade óssea. Nossos ossos precisam de estresse, de impacto, mas até certo ponto, pois eles também quebram.
“O que não mata, me fortalece.”(Nietzche) “até certo ponto” (Taleb)
Temos que usar essa capacidade de forma consciente, dando a nós mesmos um nível de estresse que traga benefícios.
Tá, ok. Mas qual a relação disso com os riscos no Parkour?
Acredito que o alto risco presente no Parkour o tempo todo, nos torna antifrágeis. Recebo a cada dia mais crianças fragilizadas pela falta de exposição ao risco e movimento.
Sentir o impacto de um salto um pouco pesado. Uma leve canelada na quina de um obstáculo. O calo aberto depois de um lache. São adversidades que nos preparam e nos deixam mais fortes.
Essa exposição que temos a cada treino aos riscos, os estresses que sofremos (até certo ponto), quando utilizados de forma correta, geram adaptação e fortalecimento. Nos tornam antifrágeis.
O problema no Parkour não é o fato dele ser arriscado ou perigoso. Essa é a solução.
É justamente esse fato que torna os praticantes mais fortes e seguros.
É a presença constante do risco que nos dá segurança.
Abrace as adversidades, no Parkour e na vida. Lembre que se usado de forma inteligente, o estresse te fortalece.
Parkour é a antifragilidade vista na prática.